Nesse mês de setembro (2015) tive o prazer de conhecer Sílvia, uma espanhola estudante de arquitetura muito simpática. Sentadas na igreja do Bonfim conversávamos, e então pedi a ela que dividisse suas experiências com os espaços soteropolitanos comigo. Gravei suas palavras e hoje inicio essa que será a primeira das muitas narrativas que escreverei seja aqui, em cadernos, em paredes, portas…
Com a palavra, Sílvia:
Gostei muito do Solar do Unhão, principalmente porque estudo arquitetura e foi bom saber mais sobre Lina Bo Bardi! Só acho uma pena que ela e seu material não sejam tão divulgados para pessoas que não estão relacionadas com arquitetura.
O Pelourinho é muito lindo! Ao chegar, lembrei de Ouro Preto e Portugal, o Porto me fez lembrar muito aqui, Salvador, com essa coisa das ladeiras… É bem parecida. Na verdade, o jeito como as ruas do Pelourinho foram feitas me lembra da Europa e eu me sinto mais próxima de casa. Fui para Brasília e São Paulo, e meu: Não me senti nada em casa! Embora adore São Paulo. Além do Porto, o jeito do Pelourinho me lembrou de Bruxelas com suas ruas que descem e sobem, umas mais estreitas e outras mais compridas e outras mais largas… Um caos organizado. Acho mais organizado que o centro de São Paulo. Fiquei bem aqui porque o lugar parece com outros lugares da Europa que eu fui e me senti bem. Fiquei bem porque a cidade é acolhedora e abraça.
Para igrejas eu não fui muito, tem muitas no mundo, então… (risos) Mas é legal, outro tipo de turismo.
À noite, achei a iluminação muito interessante e mais uma vez recordei da Europa. É tênue, contínua, diferente da iluminação em São Paulo que é mais forte, talvez porque lá é tudo maior. Aqui é diferente, você anda por um lugar e a luz continua, não muda, segue o percurso, o que me faz lembrar o centro histórico da Barcelona, onde as luzes são mais suaves, mais acolhedoras.
Gostei de ter ido visitar o Subúrbio Ferroviário de Salvador, pois é uma área da cidade desconhecida pelos gringos. Gringo vai para Pelourinho e conheceu a Bahia inteira? Só que não! Talvez fosse legal a prefeitura fazer algum tipo de tour, não sei… Algo para que conheçamos outra realidade! Porque tipo assim, no Google quando você bota “Salvador da Bahia” só sai o Pelourinho e, o Pelourinho tem o quê, dez ruas?
A praia da Barra eu achei legal, bonita. Estava muito cheia, mas gostei do lugar.
Comparado com Barcelona aqui é um caos, na verdade não só aqui, o país como um todo… Mas eu gosto desse caos. O urbanismo enquanto “planejado” no Brasil tem um déficit muito grande. Tipo, as cidades são feitas aos poucos e sem pensar que amanhã possa ser que esse bairro precise de sei lá, um trem… E aí se precisar de um trem, bota gente pra fora e acabou. Não só aqui, tipo, cadê o plano urbanístico de São Paulo? Não tem nenhum. A gente vem de um lugar que é a Europa que está tudo bem planejado, que está tudo mais ou menos certinho e chega aqui, é o caos. Mas lá na Europa a gente também reclama, é assim em qualquer lugar do mundo!
E é triste a violência aqui. Os policiais se vestem de modo a dar medo, parecem estar numa guerra.
Referências:
- O Trapiche à beira da baía: a restauração do Unhão por Lina Bo Bardi. Por Carla Brandão Zollinger. Disponível em: http://www.docomomo.org.br/seminario%207%20pdfs/012.pdf
- Enciclopédia Itaú Cultural – Lina Bo Bardi. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1646/lina-bo-bardi